segunda-feira, 9 de abril de 2012

DESCANSO


Havia um certo rei que decidiu dar um descanso a um de seus vários empregados, lhe dizendo que como prêmio por seus serviços prestados, poderia, a qualquer momento, desfrutar do descanso de seu palácio, no período em que toda a família real estivesse viajando.

O rei e toda a sua família fora viajar e no seu retorno espantou-se pelo fato do empregado agraciado com o descanso não ter usufruído de tal beneficio em nenhum momento de sua ausência.

Inquieto, o Rei lhe perguntou:

Acaso você desafia minhas ordens, servo?

Respondeu o servo:

De maneira alguma, apenas estou seguindo o que vossa majestade determinou!

Questionou o Rei:

Mas você sequer descansou um momento

Respondeu o servo:

Se o senhor e toda a sua família estavam em outro lugar e eu era responsável por servir a vocês, como poderia eu me cansar?

Perguntou o Rei?

Mas porque você queria se cansar?

Meu bondoso rei, o descanso somente é um prêmio para aqueles que se cansam!

Desde a antiguidade, todos os homens, quer ricos, quer pobres, quer livres, quer escravos, sempre buscaram somente uma coisa, que por muitas é até mesmo comumente confundido com a felicidade, mas na verdade sempre se buscou o descanso, o verdadeiro descanso.

Tal busca é evidente em nosso mundo contemporâneo, com o crescente mercado do entretenimento, práticas de lazer e de atividades de relaxamento, sendo nítido o crescimento do numero de profissionais especializados principalmente em praticas e atividades visando o descanso de seus clientes, que buscam cada vez mais, novas estratégias e fórmulas para evitar o cansaço, físico, mental e espiritual.

Tornou-se muito comum, depararmos com pessoas totalmente desiludidas e sem forças, cansadas de todas as dificuldades e percalços na trilha da vida, cansados de viver correndo, de viver buscando, de viver sobrevivendo, enfim, cansados da vida.

Não podemos negar, que todos nós, visamos no fim, obtermos descanso, obtermos tranquilidade e segurança.

Gosto de pensar como se nossa vida fosse uma pilha, dotada de energia para fazer com que outras ferramentas e mecanismos funcionem, sendo que tal potencial vai sendo gasto conforme o tempo e a utilização é realizada e no fim de sua energia disponível a mesma é retirada de onde estava lotada como motor gerador.

Todos nós, somos dotados de uma quantidade exata de força, para que possamos cumprir nossos objetivos e propósitos, para que possamos correr a carreira que nos foi proposta, sendo que após o cumprimento desta é que encontraremos o devido descanso.

Vejo que hoje, muitas pessoas, pensam que encontrarão descanso se interromperem suas vidas, antes que o momento exato da morte tenha chegado, antecipando assim algo que não deve ser adiantado.

Mas se existe um descanso, porque então devemos continuar vivendo ao invés de todos morrermos neste momento e logo entrar no descanso prometido?

Tal questionamento pode ser respondido com a própria fábula apresentada, revelando que não há sentido em descansarmos se ainda não nos cansamos, se ainda não nos esgotamos, se ainda possuímos energia para lutar, energias para viver, energias para sonhar.

Se acaso interrompermos nossas vidas visando o descanso, nunca o alcançaremos, uma vez que não estaremos totalmente exaustos e assim não poderemos desfrutar de todo o descanso que nos é reservado, não aproveitando o “prêmio” em sua totalidade.

Nossa energia somente acaba quando tudo acaba e se ainda estamos neste mundo é porque ainda possuímos forças e energia para cumprir os propósitos para os quais fomos criados.

Assim como a pilha podemos ser o combustível necessário para alimentar um marca-passo que manterá outra pessoa viva ou podemos ser o veículo de energia necessária para alimentar um detonador de uma arma de destruição em massa, responsável por eliminar qualquer esperança ou chance de toda uma população, cabendo somente a nós o papel de decidir se devemos ser instrumentos para o bem ou para mal, fator este que será determinante a para a história e o legado que deixaremos.

Não faz o menor sentido em chegarmos ao fim de nossas vidas e olharmos para tudo que fizemos e perceber que mesmo que nossa luta tenha acabado não conseguiremos desfrutar do descanso que nos era reservado, uma vez que sempre haverão fantasmas e pesadelos do passado, nos assombrando e nos impedindo de descansar tranquilamente e em paz, tanto com Deus, com os homens, quanto com nós mesmos.

Mas ainda há esperança, ainda há esperança para que todos nós, a partir de hoje, decidamos gastar nossas energias em prol de um bem maior, em prol de um propósito eterno, o propósito de salvar e transformar vidas, para que enfim, possamos descansar de nossas obras!


Gabriel Horta
Advogado, escritor, compositor e músico.
e-mail: gabrielfhorta@gmail.com
Twitter: @gabrielfhorta

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