“SENHOR, tu me
sondaste, e me conheces”
Há
alguns dias passei por uma livraria muito famosa em todo o país e me deparei
com uma obra que contava a história de várias personalidades de todos os
períodos da humanidade, mas ao começar a apreciar tais escritos, fui
confrontado por duas pessoas especificamente, o Pirata Barba Negra e uma
condenada a prisão chamada Ruth Ellis.
Barba
Negra, ou Edward Teach, nasceu na Inglaterra e de acordo com alguns
pesquisadores seria de origem nobre, contudo, mesmo não sendo muito corajoso,
Edward se torna pirata e saqueador, criando, para sua proteção a imagem do
Pirata mundialmente famoso, chamado Barba Negra, sendo que fazia questão de que
seu nome fosse precedido por atrocidades sem limites, a fim de que pudesse com
maior facilidade obter a rendição pacífica de seus possíveis inimigos, tanto é
que utilizava-se de palitos de fósforo acesos em suas orelhas para que os que
se confrontassem com ele fossem surpreendidos pela fumaça que o envolvia, bem
como o forte cheiro de enxofre gerado pela combustão.
Na
verdade ele era um pirata detentor de um poderio de fogo muito grande, mas que
nem mesmo chegava aos pés da figura mítica criada em torno de sua imagem
aterrorizante, que tinha um único propósito, evitar ao máximo o confronto,
buscando a rendição de seus adversários.
De
outro lado temos a figura de Ruth Ellis, uma mulher da alta sociedade inglesa
que fora constantemente humilhada e enganada por seu marido, sendo que em uma
sexta feira da paixão, resolveu dar fim a todo este sofrimento após ele ter
prometido se encontrar com ela para jantarem juntos e não cumprindo, Ruth o
encontrou após 3 dias em um Pub inglês, resolvendo assim dar fim a toda a
história desferindo 6 disparos contra o homem, que morreu no local.
Ellis,
ao invés de fugir da cena do crime decidiu aguardar a chegada da polícia que a
prendeu levando-a a julgamento no qual o promotor ao questioná-la o que
pretendia fazer ao descarregar aquele revólver, ela, sem nenhum medo das
consequências, respondeu: “É evidente que,
quando atirei, eu pretendia matá-lo”
Tal
afirmação é chocante, contudo, revela-nos uma atitude, por mais incrível que pareça,
louvável.
Esta mulher
não se preocupou em nenhum momento com as consequências que o fato de ser
verdadeira e admitir que cometeu algo errado, poderiam lhe acarretar, assumindo
os seus atos ante as autoridades e perante a todos dispostos a julgá-la.
Ruth
provou que é possível sim assumir os erros e ser verdadeiro mesmo ante ao
perigo eminente. Preferiu ser verdadeira consigo mesma e pagar pelas
consequências, do que viver o resto da vida se culpando pela omissão dos fatos.
O
mais interessante é que ambos personagens foram mortos, contudo, Barba Negra,
por toda a sua imagem falsa, sofreu a grande humilhação de ter exibida sua
cabeça como troféu pelo inimigo, que o venceu por suas mentiras e falsidades,
sendo que Ruth Ellis, fora enforcada, mas com toda população a seu favor
pedindo desesperadamente pela libertação
da mesma, o que ocasionou o fim das mortes por enforcamento na Inglaterra.
Atualmente
o que vemos são pessoas que cada vez mais preferem criar personagens e lendas
sobre sua vida, não assumindo que são limitados e suscetíveis de erros e
tropeços, reafirmando a natureza egoísta e auto-suficiente de que não
necessitam de nenhuma ajuda, de que não precisam de salvação por que todos o
temem e ele é tão grande que nada pode atingi-lo, mas ironicamente são pegos
justamente onde construíram seus personagens de vida, exatamente em suas
mentes, em suas cabeças, visto que chegam ao ponto de acreditar que o
personagem criado é mais real do que realmente são, caindo em grande confusão
com suas mentes exibidas como um troféu.
Mas
ainda bem que há esperança, há esperança de que existam pessoas como Ruth
Ellis, que são capazes de assumir que não são perfeitos e que não inventam
desculpas para fazer ou não fazer algo, assumindo que não são auto suficientes,
que são limitados e que precisam de salvação.
Escolha
hoje ser verdadeiro e deixe uma história de quem realmente você é, mudando o
mundo no qual você está inserido, ao invés de morrer como alguém que nunca
existiu por viver encoberto por outro alguém, um alguém coberto de fumaça e
enxofre.
Gabriel Horta
Advogado, escritor, compositor e músico.
e-mail: gabrielfhorta@gmail.com
Twitter: @gabrielfhorta
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