“para
mim o viver é Cristo e o morrer é lucro”
Pretendo no texto a seguir fazer breves
apontamentos sobre estes dois conceitos tão complexos e relevantes, não
exaurindo de forma alguma todo o conteúdo que permeia os mesmos.
O homem é um ser complexo formado por
inúmeros sistemas e dispositivos, que servem tanto para sua proteção quanto
para sua sobrevivência no ambiente onde se insere.
Um mecanismo natural que todo ser humano
possui é seu instinto de sobrevivência, sua vontade de vencer e conquistar o
lugar mais alto em sua cadeia alimentar, ou até mesmo em sua tribo ou clã,
podendo assim possuir todas as vantagens, regalias e proteções possíveis
advindas de tal relação de superioridade.
O instinto natural sempre nos condiciona a
agir de forma a preservar nossa vida, a sobreviver aos ataques e afrontas, se
adaptando ao ambiente e evitando sempre a morte.
Este seria o curso “natural” das coisas,
contudo não é o bastante para nos garantir paz e segurança, visto que a todo
momento estamos sujeitos a falhar, estamos sujeitos a não adaptação, a derrota
por alguém mais forte, estamos sujeitos a ser enganados por nossos instintos e
sentimentos que muitas vezes ao invés de nos proteger e preservar, nos expõem
ao verdadeiro perigo.
Somente é possível desfrutar paz e segurança
quando não mais nos preocupamos com o bem que visamos proteger, somente
conseguimos viver quando deixamos de nos preocupar em viver.
A vida, cada vez mais se torna difícil,
ingrata e até desumana em nosso mundo contemporâneo o que nos leva a cada vez
mais nos preocuparmos em como iremos sobreviver a mais um dia, a como iremos
aguentar firmes e inabaláveis.
Contudo, a vida não deve ser nosso alvo de
proteção, afinal esta é passageira e muito passageira.
A vida, quando se torna nossa maior
preocupação, impede na verdade que vivamos como realmente devemos viver, de
forma a aprender e a se preparar porque tudo o que temos experimentado até hoje
na verdade não passa de uma preparação, um grande ensaio que nos prepara para
que quando o grande dia chegar possamos estar firmes e cada vez mais parecidos
com o Filho.
Mas porque a morte é tão relevante para nós
ao ponto de ser considerado lucro?
Primeiramente esclareço que não pretendo
esclarecer pontos acerca da morte natural, da morte corporal, do fim da
matéria, mas sim a morte como mecanismo de mudança.
A morte está intimamente ligada a maldade,
que por sua vez, ao contrário do que muitos pensam, não possui uma
personificação, não está arraigada a uma pessoa ou a algum ser, mas está
justamente nas ações que praticamos.
Em segundo lugar, temos que Deus, sendo
infinitamente bondoso poderia nos receber com toda a maldade que praticamos de
forma natural?
É necessário que a maldade seja eliminada de
todos nós.
Mas como então Deus poderia acabar com a maldade?
Matando os maldosos, ou seja os que praticam a maldade, resumindo, todos nós,
seres humanos.
E foi justamente isto o que Ele fez, só que
com um toque de graça e misericórdia, o que é bem peculiar e muito próprio
dELe.
Ao matar todos os maldosos Ele em
contrapartida oferece-nos a oportunidade de sermos novas criaturas, com a mesma
identidade de seu Filho.
Quando falamos de morte, na verdade tratamos
do dispositivo utilizado para que a assunção de uma nova identidade seja
possível.
A morte deve ser encarada para todos nós não
como o fim da vida, a última coisa que nos irá ocorrer, mas sim um processo que
pode e deve ocorrer até mesmo antes da morte física, já que é necessário que
estejamos mortos para que possamos assumir uma nova Vida, visto que não é
possível que duas coisas ocupem o mesmo espaço, ou seja, não é possível que
alguém possua duas vidas ao mesmo tempo.
È como se estivéssemos naqueles filmes de
ação policial quando um criminoso forja sua morte e assume uma nova identidade
que retira assim toda a culpa que existia sobre ele.
Se considerarmos que todos somos pecadores e
que carecemos da Glória de Deus, como poderíamos em nossa atual identidade nos aproximar novamente do perfeito Criador, se na
verdade somos mais inimigos do que amigos de Deus, já que praticamos sempre a
maldade?
É necessário então que apresentemos uma
identidade diversa.
Para isso Jesus, o homem mais bondoso que já
passou por esta terra, morreu em nosso lugar carregando em seus ombros toda a
responsabilidade por toda a maldade existente ou que iria existir sobre toda a
terra, nos livrando de tal pena, já que os verdadeiros merecedores da morte
proveniente da maldade eram todos nós, seres humanos carecedores do favor de
Deus.
Ao morrer, Cristo nos deixa a possibilidade
de viver em seu lugar, de sermos os pés, as mãos dEle aqui na terra, o que nos
faz como Ele é.
A partir desse momento temos que escolher se
queremos morrer eternamente, sem assumir a identidade que Ele nos deixou, ou se
queremos abrir mão de nossa própria vida assumindo tudo o que faz parte de
Cristo.
Se escolhemos viver como Ele é, na verdade
será Ele quem irá viver através de nós, fazendo com que a identidade revelada
através de tudo que fazemos ou que somos, seja exatamente a identidade de Filho
de Deus que Ele possui.
Seria como se em seu documento de identidade
constasse o nome de Jesus Cristo que pelo fato de já ter pago toda a dívida
decorrente da maldade, nada mais tem a dever para com seus acusadores, tendo
ocorrido a extinção de sua punição pelo cumprimento da pena correspondente.
Precisamos assim nos utilizar da identidade
de um verdadeiro filho de Deus, ou seja a identidade de Jesus Cristo, para que
assim possamos também tonarmos a ser filhos d’Ele e portanto torna-se
necessário que venhamos assumir o papel de Cristo, nos parecendo cada vez mais
com Ele, já que isto tudo é necessário, visto que no momento em que escolhemos
viver nossa própria vida e não mais nos relacionar com Deus automaticamente nos
tornamos estranhos d’Ele o que impede que possamos entrar para desfrutar a vida
eterna.
Portanto, é necessário que nossa humanidade
sempre morra e que a verdadeira identidade que devemos apresentar se torne
latente todos os dias de nossa vida, para que assim possamos considerar que a
morte é realmente lucro e que somente há vida quando deixamos de viver para que
Cristo viva.
Advogado, escritor, compositor e músico.
www.licoespelocaminho.blogspot.com
Twitter: @gabrielfhorta
Colaborador do portal Lagoinha.com
Um frequente refrão no Antigo Testamento era Eu serei seu Deus, e eles serão meu povo (cf. Jer. 31:33; Os. 2:23; Zc. 8:8; 13:9; Heb. 8:10). Às vezes algumas variações dessa promessa focalizavam o povo e o que ele devia ser, e em outros casos se relacionava com Deus e o que Deus haveria de fazer. A promessa Serei o seu Deus é realmente um compromisso de estar com o seu povo, cuidar dele, discipliná-lo, protegê-lo, suprir suas necessidades e ter um relacionamento pessoal com ele. De modo contínuo, essa promessa finalmente é consumada na salvação em que Deus traria em Cristo.
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