quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

VONTADE SOBERANA OU CONDICIONADA A FÉ?


“Ora, sem fé é impossível agradar-lhe; porque é necessário que aquele que se aproxima de Deus creia que ele existe, e que é galardoador dos que o buscam.“ (Hebreus 11:6)

O final de mais um ano se aproxima e muito se fala em fazer pedidos, em acreditar que podemos conseguir o que quisermos independente de qualquer outra coisa, tudo isso através da Fé.

Tal discurso é muito comumente visto nas principais plataformas formadoras de opinião, principalmente no panorama do movimento cristão brasileiro e porque não no âmbito motivacional empresarial do capitalismo agressivo contemporâneo, mas é necessário que venhamos definir qual deve ser realmente nossa cosmovisão e conceito de Fé, a fim de afastar qualquer engano ou frustração.

Tema mais polemico que este acho que não conseguiríamos encontrar, principalmente dentre as inúmeras denominações e pensamentos diversos existentes no âmbito das realidades cristãs atuais.

Contudo não me presto a concluir pelo acerto de alguns e o desacerto de outros apenas a evidenciar a real definição bíblica acerca da fé e da vontade soberana de Deus e como ambos conceitos se comunicam e sobrevivem.

Primeiramente, a Bíblia nos traz que a vontade de Deus é soberana ao ponto de se colocar sobre o controle de todas as leis da natureza, visto que nem mesmo uma folha cai se não for da vontade de Deus que isto ocorra.

Mas então independentemente do que façamos ou não essa vontade soberana sempre irá determinar os resultados e as consequências as quais seremos submetidos?

De forma alguma.

O que ocorre é que podemos escolher se nos colocamos sob a vontade de Deus ou se nos entregamos a sorte de nossas forças e vontades.

Já o paradigma da fé perpassa pela firme convicção das coisas que se esperam.

Ora, se você espera somente o que você precisa, independente de que seja ou não a vontade de Deus que você as possua, sinto-lhe informar que você anda esperando pelas coisas erradas, visto que nossa alma deve sempre ansiar, antes de tudo, a presença de Deus e sua vontade suprema.

Ao tratar de fé as escrituras sagradas trazem que se tivermos fé do tamanho de um grão de mostarda podemos ordenar aos montes que se lancem ao mar e estes então irão prontamente obedecer.

Contudo, a fé não torna-se um simples botão ativador do poder de Deus, uma coisa deve-se ter em mente.

Ao ordenarmos ao monte fazemos isso em nome de quem?

Se fazemos em nome de Jesus, esta ação deve ter uma finalidade que se volte para Ele, para o reino de Deus.

A fé na verdade é como se tivéssemos uma procuração, na qual agimos em nome de outra pessoa (Jesus) para defender e assegurar seus “interesses”.

Se agirmos em nome de alguém, isso pressupõe que nossas ações devem se dirigir as vontades desta pessoa a qual representamos, o que nos condiciona novamente a vontade soberana.

É necessário ter fé para confiar que por mais que não pareça aos nossos olhos, a vontade de Deus é sempre boa perfeita e agradável.

Contudo vê-se que os conceitos de bom, perfeito e agradável, são extremamente relativos e axiológicos, dependendo sempre do contexto ao qual estamos inseridos, visto que nem sempre o que é visivelmente para mim bom, perfeito e agradável, será realmente bom, perfeito e agradável para Deus.

Se entendermos que Ele sempre tem o controle e a visão sobre o infinito, sabendo tanto o nosso passado, nosso presente e nosso futuro, além das demais implicações que nossas atitudes podem desencadear, não há motivos para não confiar que a vontade dEle sempre será a melhor, bem melhor do que a nossa que está condicionada a uma visão limitada tanto temporal quanto espacial.

Muitos questionam que as tristezas, amarguras, desilusões, doenças e demais adversidades nunca serão a vontade de Deus.

Mas será mesmo?

Muitos dizem que o motivo de várias pessoas passarem por dificuldades e estarem submetidas a determinadas condições se deve unicamente pelo fato da mesma não possuir fé suficiente para se ver livre.

Mas será mesmo?

Porque então vários personagens da Bíblia, como Noé, Abraão, Isaque, Jacó, José, Moisés, Gideão, Sansão, Davi, dentre outros, morreram sem mesmo alcançar a promessa, como nos relata Paulo?

E mais, Paulo, autor de grande parte do novo testamento e talvez um dos homens mais emblemáticos do evangelho pós Jesus Cristo, viveu pregando a palavra por toda vida e definiu e contextualizou o conceito de fé que nos alcança até hoje, viveu grande parte de sua vida cego. Isto mesmo, o homem que talvez mais escreveu sobre fé, morreu cego!

Seria até mesmo injusto dizer que alguém que sofre com alguma dificuldade está passando por ela por ausência de fé suficiente para vencer, nos esquecendo que esta pessoa pode possuir muito mais fé do que imaginamos se ela entender que Deus está no controle de tudo e que se ela está dessa maneira é porque ainda existe um propósito.

Imagine só se através da morte de alguém a mensagem do evangelho se faz real, como se fez há aproximadamente 2000 anos atrás com a morte do mais inocente e justo moço que já andou por essa terra? Justamente, Aquele que dividiu a história sofreu e morreu uma morte tão injusta por pessoas que sequer reconheceram a profundidade de toda sua entrega e humildade.

Há algum tempo, temos cantado a linda canção de John Mark Mcmilliam, chamadas “How He Loves”, ou para nós desta terra tupiniquim, “Me Ama”, “Ele me amou”, como outras traduções, que se tornaram um autêntico hino cristão contemporâneo.

Pois bem, como alguns já sabem, essa canção surgiu quando o compositor perdeu um grande amigo em um terrível e imprevisível acidente, sendo que em todo tempo este sempre foi fiel e verdadeiro para com Deus.

John Mark ao questionar a Deus sobre tal acontecimento e as razões fora respondido no sentido de que o amor de Deus por todos nós seria tão forte e tão profundo ao ponto de fazer de tudo para aproximar-nos dEle.

No momento John não entendeu muito bem, mas hoje podemos presenciar uma grande multidão de pessoas que tem recebido amor e vida através de tal canção que foi composta em um momento de total desilusão e morte, o que revela como Deus sempre se utiliza de tudo, sempre para o nosso bem, por mais doloroso que seja.

Se a fé é a esperança daquilo que não se vê a fé deve ser justamente esperar não por acontecimentos físicos e materiais, visíveis e superficiais, mas sim o cumprimento da vontade daquele que é invisível, mas real.

Portanto, para vivermos a plena vontade de Deus, o que deve ser o alvo da nossa vida, devemos sempre acreditar e ter fé no sentido de confiar que Ele tem o controle sobre tudo e que mesmo que a nosso ver não seja nem bom, nem perfeito, nem agradável, mas 
sempre entendendo que o  propósito de Deus para nós é muito maior que tudo isso e sendo assim verdadeiramente bom, perfeito e agradável..

Sendo assim, não se desespere pela primeira pedra no caminho, saiba que se for preciso e se for da vontade de Deus, Ele removerá não só esta pequena pedra, mas também o grande monte a sua frente, mas se isso não acontecer, continue tendo fé que esta é a vontade soberana de Deus.

Experimente apenas confiar e abrir mão de suas convicções, para que a vontade soberana de Deus se faça real em sua vida.

O seu grande milagre pode estar em aprender a confiar que o propósito dEle é bem maior que você e que mesmo que o socorro não venha Ele ainda continua no controle!


::.Gabriel Horta.::
Advogado, escritor, compositor e músico.
www.licoespelocaminho.blogspot.com
Twitter: @gabrielfhorta
Colaborador do portal Lagoinha.com

Um comentário: